COLETIVO TELA SUJA FILMES: CRÍTICA DO FILME "ENTRE NÓS, DINHEIRO" NA 15ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES

Mostra Foco 1: “Entre nós, dinheiro”

Leonardo Amaral

Diversos são os filmes que se frustram na defesa de uma tese que propõe como principal mote de realização. Já no início de Entre nós, dinheiro, há uma cartela e uma voz off que reafirmam uma relação de classes prontamente representada no restante do curta de Renan Rovida. O curta é totalmente fiel ao seu discurso e o faz de uma maneira bastante verdadeira. Nesse sentido, Entre nós, dinheiro, é um caso de uma defesa que funciona bem dentro da estrutura criada no curta-metragem.

Em um pequeno bar-mercearia há uma celebração de final de ano entre patrões e funcionários. Em um primeiro instante, a câmera na mão denota uma atmosfera documental de proximidade. Todos comem juntos o churrasco, bebem da mesma cerveja e celebram juntos. Na medida em que se desenvolve a narrativa, as relações humanas e de classe vão se estabelecendo. Enquanto a mulher cuida do bebê na mesa, o dono do bar a trai no banheiro, ao mesmo tempo em que um dos personagens fala de seus sonhos, como, por exemplo, ter dinheiro para comprar um carro e poder frequentar certos lugares. Em seguida, há uma reclamação dos empregados de maltrato por parte do mesmo. O filme jamais esconde a vilania do patrão e leva tudo isso as últimas conseqüências, com a briga que acontece no bar e o abandono do personagem.

A câmera na mão e agilidade proporcionada pelo artifício permite que ela trafegue por todos os lugares do bar, a fim de captar tudo aquilo que ali acontece, as camadas de interações possíveis, explorando todas as nuances das relações e estabelecendo, a partir da própria mise-en-scène, as diferenciações entre aqueles que dominam e são dominados. Estão lá as relações de exploração do patrão, a exclusão da mulher e a traição conjugal. A câmera deflagra cada uma dessas relações e a montagem e a agilidade da mise-en-scène permitem que essa passagem do dia decorra de maneira orgânica. Ao final, resta aos personagens limpar e fechar o estabelecimento. Como bem afirma o letreiro inicial do filme, são eles os responsáveis por ser o trabalho a dar lucro para o patrão. O que os separa, fica claro no curta, é sempre o dinheiro e as diferenciações por ele estabelecidas.

*Visto na 15ª Mostra de Tiradentes

PUBLICADA NO SITE: www.filmespolvo.com.br

FOTOS DURANTE O DEBATE COM OS REALIZADORES DO PRIMEIRO DIA DA MOSTRA FOCO: